terça-feira, 24 de março de 2009

Entrevista com Rodrigo

A alguns anos atrás existia um site chamado Hc Nordeste, era tipo um punknet nordestino, nas devidas proporções, e eu fazia esse e-zine junto com meu amigo Martín e mais um monte de gente que dava uma mão, o negócio é que o tempo acabou ficando escasso, veio faculdade, trabalho e o site acabou encerrando as atividades.
Acho que ele funcionou por uns dois anos, e a gente entrevistou um bocadinho de gente nesse meio tempo, e um dia desses eu achei um cd com essas entrevistas velhas e resolvi postar algumas aqui, a primeira é essa com o Rodrigo do Dead Fish, feita na segunda vez que eles passaram aqui por Maceió, em 2004, logo quando saiu o Zero e Um.


entrevista por Daniel Hogrefe, Martín Diaz e Buzugo
fotos: Vanessa Mota

2004 foi o ano do Dead Fish, a banda levou altos prêmios, entre eles o de Banda Revelação realizado pela MTV, o que é, de certa forma, irônico, já que o Dead Fish têm mais de 10 anos de estrada. Qual foi a sensação de levar aquele prêmio?
A gente tá competindo em outro prêmio de banda revelação esse ano, que é o do Multishow. São precisamente 14 anos de banda. Cara, eu gostei, eu não achei ruim não. Fui lá, fui pra festa, tomei uma birita, meu, e ainda ganhei um prêmio. Legal, fiquei feliz! Não vou dizer que eu não fiquei feliz, porque eu fiquei feliz, achei que não fosse ficar. Mas é uma ironia, né? Parece que o mainstream é meio lento das idéias. (risos)

Já ouví você falar muito que na Deck Disc pra falar com o dono é só chegar lá e falar na hora, sem funcionários, sem nada. Como é essa comunicação?
É um selo independente que funciona como mainstream, sacou? Eles tem uma editora, eles tem aquele lance de merchardesign em rádio e essas paradas todas como uma gravadora grande mesmo, só que com uma verba menor e com uma logística menor. Então, você tem mais acesso as pessoas dentro do selo, você não vai falar com manager bafudo, sacou?

Depois de altos clipes que rolaram na MTV, de aparecer na Globo e tal, já teve algum caso de passar um cara na rua falando “Pô, te vi na MTV, sou teu fã!” ?
Hoje em dia é meio ridículo. As vezes eu tô na minha casa, eu moro em São Paulo, no centro, e as vezes eu tô subindo a Augusta (moro perto da Rua Augusta), aí o moleque grita de dentro do ônibus “ahhhhhh!!!”, ai eu tô com fone e já tipo me escondo, fico com muita vergonha. Mas às vezes é legal, o cara para pra trocar uma idéia, é legal.

Quando vocês anunciaram que tinham assinado com a Deck Disc o que não faltaram foram críticas falando que o Dead Fish tinha se vendido. Mas vocês mostraram que a história não é bem assim...
Ainda rola. As pessoas que pensam isso, que pensem isso. Não me incomoda nada elas terem a opinião delas quanto ao meu trabalho, eu sei o que eu tô fazendo, sacou? Então eu tiro minhas próprias conclusões, eu não costumo ser um cara que consulte muito outras pessoas sobre o que eu faço e se as pessoas quiserem achar isso pra mim, beleza! Eu continuo fazendo meu trampo do meu jeito.


A Deck Disc relançou todos os discos antigos da banda feitos no underground, sem apoio e sem quase grana. E agora vão chegar no Brasil todo, como é isso?
Cara, a gente já vendia. Agente vendeu 10 mil cópias de cada cd, saca? No independente. Agente não vai vender mais que 35, 40 mil cópias desse com uma estrutura um pouco mais mainstream. Então a diferença que eu vejo é que eles vão chegar em lugares que agente não conseguiu chegar, por exemplo, na Amazônia, em alguns países da América do Sul. Argentina, Chile e Uruguai já tem, agente mandava. Mas Peru, Colômbia, Bolívia... Essa semana eu fiquei sabendo que chegou cd na Bolívia, isso é maravilhoso!

Como é ter um cd produzido por Rian Greene, que já produziu cds de bandas como, por exemplo, NOFX?
Meu, eu sou muito burro, quem conhecia o cara era o Philippe, o Hóspede e o Nô. O Alyand é metalero, conhece produtor de metal. Aí falaram: “Pô, Rian Greene!!”. E eu: “Ah, legal, o cara é gringo”. Os caras falaram: “Rodrigo, você não tá entendendo. É o cara que produziu o Punk in Drublic”. Eu falei: “ãããhh? Não, você tá de sacanagem!” (risos) Eu passei mau cara! Eu tava ouvindo um cd do Sick Of It All, ao vivo, que é uma puta banda de Nova York que eu acho que todo mundo devia ouvir. O Sick Of It All gravou um cd ao vivo em São Francisco e ele que mixou e masterizou, e agente tava dentro do estúdio ouvindo o cd do Sick Of It All quando falaram que ele que ia mixar e masterizar. Cara, eu passei mal!

O Rafael Ramos, da Deck, traduziu as letras pra ele. Ele gostou?
Ah, ele gostou. Mas ele é "musicão". Assim, ele gostou mais do baixo do Negão (Alyand). O Negão é mais soul, é mais brasileiro, os baixistas lá fora são mais precisos.

Tem gente que não gosta de falar das letras que esreve, você pode falar de alguma letra agora?
Claro.

"Bem-vindo ao clube", qual o significado dela?
Um monte de gente faz um monte de interpretação legal! Eu acho manero! Tem uns até que falam que “Bem-vindo ao clube” é como se eu tivesse entrando no mercado, ou “Bem-vindo ao clube” é como se eu tivesse esquecido o que eu vivi. Não, “Bem-vindo ao clube” é uma coisa que eu vivi em 2001, que era o Clube dos Niilistas. Ainda meus melhores amigos, só que eles tão espalhados pelo mundo. Tem um na Bélgica, dois no Rio, outro em São Paulo, um outro tá na Noruega. Era um clube que, meu, agente viveu a cena punk por muitos e muitos anos, eu vivi, eles não tinham nada a ver com cena punk, um era "geninho" da computação, o outro... E eu passei a não acreditar numa porrada de coisa que eu acreditava, saca? Eu era um cara mais de esquerda, hoje em dia eu sou muito mais de esquerda do que eu era, só que eu acredito muito menos na esquerda institucionalizada, eu acredito muito mais em vocês quatro do que num partido político. Isso era o Clube dos Niilistas, então eu falei na música: “Bem-vindo ao clube, celebrar um fim...”, celebrar o fim é como se fosse assim, a vida acabou, nós estamos nascendo agora, sacou? Viva! Nós estamos nascendo de novo num mundo filho da puta, sacou? O mundo já foi salvo, eu já me salvei, sacou? Passa pela micro-política e não pela macro política.

Você disse que hoje você é muito mais de esquerda, por isso vocês não tocaram Anarquia Corporation? Tem alguma relação?
Não, não. Eu não sou anarquista, nem em anarquia eu acredito. Já fui socialista por muitos anos mas nunca me filiei, até porque meu pai era um cara muito crítico com relação a isso. Ele falava “todos esses caras vão te trair”. Não dá pra tachar saca? Eu sempre fui muito generalizador e sempre discuti muito por isso. Não dá pra tachar, existe gente boa, acho que do centro pra direita não existe gente boa não. (risos) Mas do centro pra esquerda existe gente muito legal, muito bem intencionada, mas o que acontece, você tem que lidar com ego, agente ta no ocidente. Então, eu acredito que talvez eu não seja tão de esquerda, talvez eu seja mais radical, apesar de estar aparecendo na MTV, sacou? Pode ser estranho, mas eu sou mais radical porque eu prefiro mais acreditar na sua palavra, no que eu escute, do que numa teoria embasada. È complicado eu tentar explicar isso pra vocês agora.
...
Pô, aqui vocês parecem estar muito mais unidos do que em outros lugares, eu espero que daqui a uns dois anos não aconteça o que aconteceu em todas as cenas de hardcore do Brasil, as pessoas brigaram e se odeiam e hoje a cena morreu. Ou quase.

Defina rapidamente: Religião, Deus, virgens e santas.*
Eu gostaria de ser budista, voltar a ser budista, eu tentei ser budista por um mês. No budismo o Deus tá dentro de você, mas nem isso eu consigo. Eu não acredito nisso, eu acho que as pessoas tem que buscar sua essência dentro delas mesmas. Eu acho que as pessoas deviam se perder, eu me perdi por muito tempo, eu não sou um cara coerente. Já falei uma coisa e mudei no outro dia, mas também não quero ser o professor idiota de vocês mesmos, eu quero que vocês busquem o caminho de vocês. Eu acho que nada é maior que isso, nada é mais religioso que buscar ser uma pessoa melhor. Isso independente de religião, do diabo, de Deus ou de qualquer coisa.

Há um tempo atrás ocorreram uns conflitos dentro da banda, tiveram que sair alguns integrantes. A partir de que ocorreram esses conflitos e o que os novos integrantes vieram acrescentar?
Pergunta boa, cara. Essa é a mais difícil de responder. Imagina você conviver com pessoas que são o seguinte: vocês estão na escola e suas famílias esperam que vocês sejam pessoas boas, bonitas e cheirosas... derepente um bando de moleques escolhe ter um selo independente, uma banda e sair por ai e ser feliz... e foda-se! Não querer ser rico, não querer ser milionário, não ter aquele projeto que todo mundo tem. Mas as coisas começam a dar errado, saca? Aquilo que eu falei no palco hoje, as coisas começam a dar errado e as pessoas começam a se desentender. Dentro de uma banda é como se tivesse casado com cinco pessoas. A minha banda tem cinco integrantes, é um casamento. Você tem que lidar com as manias, com os fatores negativos, positivos, saca? O cheiro do peido do cara. As pessoas mudam. Como eu te disse, eu acabei seguindo um caminho que me tornei um pouco mais radical e acho que o Murilo... o Murilo é um cara que ajudou muito o Dead Fish, é um cara que, meu, quando ele saiu eu quis desistir, eu falei: “Meu, não vai dar pra substituir o cara”. E ele tomou um outro caminho que é um caminho mais racional, era um caminho mais de consolidação, talvez agente tivesse que ser mais flexível pra algumas coisas. Cada um tomou seu rumo, entendeu? Nada é eterno. Quando ele saiu agente quis acabar, isso foi em 2003. Quando eu quis acabar, eu queria acabar mesmo! Queria pegar meu diploma de direito, enfiar na minha bunda e ir pra Europa e ir tentar fazer um mestrado. Mas ai eu tive outra luz e ele seguiu o caminho dele, agente já não se entendia, saca? Dentro da banda mesmo... eu e o Nô já desanimamos, todo mundo desanimou, é muito difícil viver essa vida de banda. Eu recomendo pra todas as pessoas que tenham banda que elas não esperem nada, que elas simplesmente toquem e sejam felizes ali óh (apontando para o palco), naquele momento! Fazer projeto todo mundo pode fazer, mas pode dar muito errado! Se você quer, vai lá e faz. Mas saiba que a probabilidade de não dar certo é alta, é muito alta. E outra coisa, o parâmetro do que seja “dar certo” pra um é muito diferente do que seja “dar certo” pra outro, sacou? O “dar certo” pro Nô é muito diferente do parâmetro que eu tenho de “dar certo”, é complicado. Então isso tudo vai gerando problemas, vai gerando o dia-a-dia cara, o dia-a-dia desgasta as pessoas. A gente conseguiu resistir e se manter na parada.
O Hóspede e o Philippe são caras muito mais novos que eu, são praticamente 8, 9 anos mais novos que eu. Eles trouxeram um gás muito diferente. Trouxeram uma coisa musical pra banda, eles tocam bem. O Dead Fish nunca foi uma banda de execução fantástica, sempre foi uma banda básica. Eles ensinaram a gente, e a gente ensina à eles, entendeu? Alguma coisa que a gente já tá mais tarimbado. E foi muito feliz. Eram caras que viviam em cenas de hardcore diferentes e acrescentaram... então, foi foda, maravilhoso.


Você escreveu "Canção para amigos" pra alguém em especial?
As pessoas sempre me perguntam em quem que eu me inspirei. Cara, naquela época eu vivia um momento de ruptura com amigos de infância, tava na faculdade e tava de saco cheio, saca? Não queria ser um advogado, não queria ser gordo, não queria ter bigode, não queria ter bafo, apesar de eu ter... não queria ter um emprego de 8 horas, não queria ter um patrão! Eu era diferente, o outside era eu! É pra muita gente, é pra um monte de cara que cresceu comigo.

Valeu Rodrigo!! Dá um último recado aí pra galera do nordeste que vai ler no site!
Chupe meu dedo. (risos) Muito obrigado Alagoas, muito obrigado Maceió. Mantenham-se assim unidos cara, por favor! E cresçam, evoluam, por favor. Obrigado, mil vezes obrigado.


* Pergunta feita por Daniel, guitarrista da Mutação na época.

2 comentários:

Noticias do Flamengo disse...

Parabens pela entrevista,e já fui no show deles que aconteceu dia 22 de março para confirir o novo album contra todos no hangar 110 e o show foi foda.

Bruno disse...

Salve Salve! =)